"Il mago" Jacques na Samp
Carlos Jacques recebe a bola, a jogada desenha-se, da cabeça para as chuteiras, tecnicamente perfeita, e, pouco depois, está na baliza. Nikiforenko vê o espaço ainda a bola vem a caminho, deixa-a entrar nele e vai buscá-la primeiro, porque percebeu primeiro as suas intenções, procura o centro e, pouco depois, está na baliza. Ambos, Jacques e Nikiforenko vivem em campo, tornando-o menos científico ou táctico do que no centro, onde se pensa mais o jogo. Os dois, simbolizam hoje as notas mais artísticas de duas equipas que correm pelo mesmo objectivo: ganhar com espectáculo.
Mas, apesar da ilusão dos puristas, o jogo (e equipas) têm raízes mais profundas. Como Bruno Trapattoni o reconhece ao falar na “futebol espectáculo” só depois de garantido o resultado. Neste momento, a sua Sampdória vale mesmo mais do que qualquer outro na Serie B. A construção dessa diferença nasceu, porém, mais do que os rasgos individuais, de uma ideia táctica colectiva de jogo que muda a face do futebol Samp. Por isso, a importância de Bolano. Por isso, o ponto de interrogação de saber como irá o onze reagir tacticamente sem ele (sem solução para ele). Porque só depois do seu “relógio” garantir, no centro, o equilíbrio do início de cada jogada, pode surgir a “nota artística” de Jacques apoiada por Kerr.
Nikiforenko deu ao Verona a coerência ininterrupta de jogo (organização/criação) que lhe faltava no meio-campo e fê-los subir. O onze joga melhor, porque pensa melhor. Isto é, a nota artística mais importante, é aquela que o colectivo (entenda-se aqui jogadas colectivas) consegue dar em campo. A ausência de um mágico em Nápoles explica a fraca campanha da equipa, desmotivando a equipa fora do campo, mas, dentro dele, foi a noção colectiva que o relançou já no final. São os tais “segredos táctico-cientificos” para além da equação jogador/bola mais puristas…
O que dizer do Lecce? Artistas como Chevanton, Vugrinec e Vucinic nos meandros das suas próprias sombras? É a arte imprevisível do futebol. Se o jogo tivesse som (para lá dos gritos dos jogadores e treinadores) a melhor forma de detectar se uma equipa está a jogar bem, seria encostar o ouvido às zonas centrais do meio-campo e tentar ouvir o bater de um “tic-tac, tic-tac” permanente. Através da sua cadência, iria perceber-se o estado do seu relógio táctico (ritmo e equilíbrio). Nesse contexto, há jogadores que, em campo, são, tacticamente quase como os “cardiologistas” da equipa. Como, em posições diferentes, Carlos Martins, Jacques, Chevantón e Nikiforenko.
Por Luigi Freiti Lobini

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